quarta-feira, 29 de julho de 2009

... e apontar ao céu.

Vamos rodar a sorte...

Jiang Chu inicia o vôo...

Ontem saí da capital rumo ao norte para Chengde. É uma cidade que servia como retiro de verão na dinastia dos imperadores Manchu, rodeada por templos budistas e a magnífica estátua de Guanyin no templo de Puning. Ainda bem que tive oportunidade de praticar o meu chinês na capital, porque aqui acabou-se o inglês. As pessoas vêem que tu és estrangeiro mas falam-te em chinês e esperam que tu percebas. Quando vêem que tu não percebes falam-te em chinês de-va-ga-ri-nho... São simpáticos. Já começo a conseguir perceber umas palavras aqui e ali. Houve um chinês que estava a falar para mim e pelo meio percebi um ni, um guo, e um ma. Tu, reino, pergunta. Ele estava a perguntar de que país é que eu era! Ao qual eu exclamo, pú tä ya! (Portugal em chinês) e ele fez um grande sorriso de reconhecimento... Fiquei contente por ter tido a minha primeira conversa em chinês:-)

Chengde

Estou em Chengdé, a norte de Beijing. Eu pensava que só os Beijing Ren é que sabiam se divertir... Isto foi ontem à noite (terça) numa rua de Chengdé.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Uffa:-).

Se quiserem saber, em que zona da muralha este vídeo foi tirado, tirei um ponto gps que tenho andado a actualizar graças ao meu irmão... Ali na barra da direita - onde andas Jiang Chu.

A grande muralha

A grande muralha foi uma experiência top! Tinha medo de experimentá-la com o mar de gente que tenho visto nos outros pontos turísticos. É difícil apreciar algo com pessoas a empurrar e putos a berrar. Encontrei uma agência que organizava um treking de 10km numa zona remota da muralha. Pensei: só os maluquinhos é que pagam para andar 10km, para cima e para baixo debaixo de um calor abrasador... Então inscrevi-me.

Acertei em cheio! Éramos pouco mais de uma dúzia de maluquinhos ocidentais com outros tantos chineses a tentar nos vender garrafas de água. O treking até se fez bem, mas houve partes complicadas, tão ingremes, que era praticamente escalada, onde tínhamos de usar as mãos transformados numa máquina de suor...

Quando se sente as pernas a tremer do esforço de percorrer apenas 10km da muralha é que se consegue dar valor ao esforço dos chineses terem construído quase 3000km da mesma...

O Jiang Chu abre as asas...

Já começo a sentir alguma confiança no meu chinês... Abordo os vendedores de rua sem problemas e regateio com os condutores de ricshaw. A minha técnica é muito simples. Começo com um - duo shao xian (quanto é?) eles dizem o preço (já sei os números) e depois dou-lhes com a minha arma secreta, uma exclamação sonora, tipo monge shaolin - OOoooaaaAAHhh!! - seguido de uns - bu shi, bu shi, (nada disso, nem pensar). Eles primeiro ficam muito admirados, depois partem-se a rir, e baixam o preço, nunca falha...

A minha confiança faz com que experimente comidas mais exóticas... E é claro que isso já implicou um primeiro desarranjo intestinal. Tentei identificar qual o prato culpado, mas não consegui. Ainda desconfiei dos escorpiões que comi ao jantar, mas não pode ter sido, porque o homem garantiu-me que eram fresquinhos... (mãe, estou a brincar!). Mas sem problemas, nada como umas verduras para restabelecer o feng shui intestinal... Como (ainda) não sei ler chinês, escolho os pratos apontando para as imagens dos menus. Escolhi um com verduras verdes e vermelhas que pareciam apetitosas, quando o prato chegou, afinal eram pimentos e malaguetas...

Uma vista do palácio.

O palácio de verão...

O palácio de verão do imperador, em Beijing, é um verdadeiro tributo ao ócio... Um lago enorme rodeado de um jardim, cheio de pavilhões, portas e átrios. Fez-me pensar que no ocidente, não damos suficiente valor ao tempo que estamos sem fazer nada... É claro que não somos todos imperadores com um séquito a trabalhar para nós, mas às vezes usamos o nosso tempo livre para estarmos ocupados a fazer outras coisas, em vez de deixarmos a mente vaguear e cultivarmos uma sensibilidade que nos permita significar o mundo...

Imaginem que pediamos a alguém, com uma sensibilidade crua, (mas preocupado com a produtividade e eficiência) que desse nome às portas e aos átrios. Provavelmente teríamos a porta 27A, ou o átrio 47E... Coisas que até poderiam ser muito úteis, mas que não significam nada...

Mas o imperador não, ele tinha tempo para significar o seu mundo e enchê-lo de poesia... Assim temos, o jardim da virtude e da harmonia, a porta das nuvens dispersas, o átrio das ondas de jáde, a porta da nuvem púrpura, a porta de convidar a lua, o átrio das virtudes celebradas, o jardim dos interesses harmoniosos, a torre da fragância do buda, o pavilhão dos desejos esquecidos e das nuvens acompanhantes, o pavilhão da clareza e do descanso e o átrio da serenidade...

Digam lá se isto assim não fica tudo muito mais bonito!

sábado, 25 de julho de 2009

O camarada Mao...

... na porta da paz celestial.

Beijing ren a dançar...

Beijing Ren

Beijing é absolutamente enorme... Para dar uma idéia, a área municipal de beijing é mais ou menos do tamanho da bélgica! É claro que a cidade é mais pequena mas mesmo assim... Como é impensável percorrê-lá a pé (a menos que eu queira passar 8h por dia a andar sem ir a lado nenhum), armei-me de uma bicicleta e fiz-me à estrada.:-) Sim, porque beijing é plana como uma tábua de majhong. Fora dos hutöngs o trânsito é caótico, mas existem ciclovias, quando tenho dúvidas sobre os sinais de trânsito sigo as outras bicicletas... O objectivo hoje era ir até à cidade proibida e à praça de tiananmen. Pelo caminho fui parando em parques e jardins à procura dos beijing ren, ou em português, de como vivem os habitantes de beijing um sábado à tarde... O que vi confirmou a atmosfera dos hutöngs. As pessoas aqui, gostam de apreciar a vida. Não tem nada a ver com a correria desenfreada de xangai. Nos parques os beijing ren, dançavam, tocavam, escreviam no chão a arte dos caracteres chineses com água, recitavam poesia, jogavam majhong... Nem sequer se importavam de um laowai (estrangeiro) lhe estar a espreitar o jogo e a tirar umas fotos:-)

Quando cheguei à cidade proibida estava lá um ren hai (mar de gente) e aprendi hoje a dizer - wo xiang yi ping shui. (eu quero uma garrafa de água!). Andar 5 horas dentro de uma cidade dentro da cidade, com um sol abrasador é obra... A arquitectura é absolutamente espantosa, e todos os palácios tem o seu significado e a sua história... Algumas com argumentos épicos, como a da menina chao, filha de uma família muito pobre, que foi comprada por um eunuco para trabalhar na corte imperial, e que sabia mais de mil poemas, um dia o imperador ouviu-a recitar poesia e apaixonou-se, e fez dela a sua concubina favorita, provocando a inveja de todas as outras, quando ela teve um filho do imperador, as outras encontraram forma de o enviar para longe, ela chorou tanto que dizem que ficou cega, e quando o imperador morreu, ela ficou sozinha, mas o novo imperador morreu sem deixar filhos e após discussão na corte decidiram fazer do neto dela imperador, fazendo dela imperatriz mãe... Menina Chao pobre chega a imperatriz mãe... Digam lá se isto não dava um argumento de novela?

Pedalando nos hutöngs de Beijing...

:-)

Beijing hutöng

Já gosto mais de Beijing (Pequim), do que Xangai, mas isso está obviamente relacionado com o sítio que escolhi para ficar... A única coisa que Xangai tem de chinês ... são os chineses. O resto são arranha céus e ruas como a Nanjing. Centros comerciais a céu aberto, com as marcas do ocidente. Em Beijing estou instalado num hutöng a norte da cidade proibida. Os hutöngs são os bairros antigos da capital, que remontam à dinastia ming, casas térreas, telhados típicos, ruas estreitas, becos e vielas, chineses a andar de bicicleta, tudo muito calmo, muito pacífico, muito característico. Acho que vou ficar por cá uns dias...

quinta-feira, 23 de julho de 2009

431km/h !

rén häi

Aprendizagens...

A primeira coisa que aprendi sobre a china é que ela não está preparada para viajantes independentes que não saibam chinês, como eu... Ou se vem num tour onde haja quem fale chinês por ti, ou tens realmente de aprender algumas palavras... As primeiras palavras que aprendi a dizer foram - wo bu ming bai - que significam, não percebo nada...

Ter de aprender chinês, não é apenas uma evidência mas uma questão de sobrevivência. É raro encontrar alguém que saiba falar inglês e mesmo quando isso acontece é muito difícil percebe-los...

Tenho um livro de imagens que até certo ponto ajuda (obrigado São). Eu aponto para a imagem de um bilhete e a imagem de um comboio e eles sabem o que quero, mas não tenho nenhuma imagem para dizer: amanhã às 17h40!

Felizmente tenho outro livro com um vocabulário essencial e uns mp3 no telemóvel (obrigado Claudio) e estou por assim dizer a tirar um curso de chinês intensivo... Os meus exames são conseguir dormir, comer, viajar... Mas atenção! O meu objectivo é apenas fazer com que me percebam. Perceber o que eles dizem é outra categoria, outro universo... Acho que teria de viver cá vários anos para ter alguma hipótese...

No início a minha pronúncia era tão má, que houve um chinês que me disse - in english please - mas tenho vindo a melhorar, ao ponto de ter abordado outro chinês na rua a perguntar direções e ele para além de me apontar um caminho começa todo contente a falar-me, como se eu o percebesse, provavelmente a perguntar-me de onde venho, se estou a gostar da china, etc, mas é aí que entra o wo bu ming bai...

A segunda coisa que aprendi sobre a china é que um país com 1.3 mil milhões de habitantes é algo que tem o seu efeito no dia a dia. O metro de xangai em hora de ponta é algo de surreal... Um verdadeiro mar de gente ou em chinês - rén häi.

Já me tinham avisado que comprar bilhetes de comboio para o mesmo dia era complicado, por causa disso, (como sou esperto), tentei comprar um dia antes bilhetes para Pequim - quan mian (cheio), afinal não sou assim tão esperto... 2 dias antes? Cheio. 3 dias? Cheio. 4 dias? Cheio. Estão a ver o filme... Como não quero passar o resto das férias em xangai, apanhei o maglev para o aeroporto à estonteante velocidade de 431km/h, onde estou agora...

...

O Eclipse

A trovoada de terça-feira, transformou-se em céus cor de chumbo para o dia do eclipse... Eu sempre soube que isto podia acontecer. Julho é dos meses mais chuvosos na região, mas continuava a ser o melhor sítio na linha da totalidade e o que tinha as melhores hipóteses, mas tal não aconteceu... Consegui na mesma escapar à chuva de xangai e fiz 150km para sul para haining, para vê-lo em yuanguang, onde existe um fenômeno de onda de maré que por coincidência seria poucas horas depois do eclipse. Esperava-se que a onda fosse muito maior que o normal devido devido ao alinhamento da lua e da sua proximidade. E acabou por ser um verdadeiro tsunami com hora marcada... Quanto ao eclipse vi-o à beira da estrada a caminho de yuanguang, isto porque o táxi que partilhei com dois americanos na estação de comboio de haining, tinha 3 rodas, 1 mudança e não dava mais de 30km/h. Uns minutos antes da totalidade mandamo-lo encostar e preparamo-nos para o evento. Apesar do céu nublado acabou por ser uma experiência incrível. Continuou a haver luz, até poucos segundos antes da totalidade e depois é uma queda abrupta. Em segundos passamos para uma noite muito escura e silenciosa. A vida ficou suspensa durante mais de 5 minutos. O silêncio apenas interrompido pelas exclamações de espanto... E tão rápido como começou, terminou, quando a luz reapareceu em segundos e tudo voltou à normalidade... É um espetáculo que nos faz sentir muito pequenos e humildes perante a grandiosidade da dança dos planetas e percebemos através desta súbita interrupção solar, o milagre que é o simples facto de o sol se levantar todos os dias... Agora só me resta planear o próximo.:-)

terça-feira, 21 de julho de 2009

Nanjing Road, Xangai

Um calor insuportável... E subitamente POW rebenta uma trovoada... Nanjing é um centro, e a minha base de exploração da cidade.

Quero agradecer os mails que recebo. É muito bom saber que trago os amigos na bagagem :-)

The Bund

Houston, the Eagle has landed...

40 anos depois do homem aterrar na lua eu aterro em Xangai. É claro que Xangai não é a lua nem eu sou o Amstrong, mas parece na mesma outro planeta.

Os ETs não me percebem, ou então sou eu o ET porque não os percebo. Nem os gestos são iguais, por isso fazer de mimo também não ajuda. Ainda bem que aprendi a dizer Tsingtao (marca de cerveja) assim pelo menos já não morro à sede.

Xangai prepara-se para a expo 2010 e parece um enorme estaleiro. Por todo o lado andaimes, picaretas, gruas, ferro, cimento e pó. Estão 40 graus de uma humidade peganhenta, por tudo isto o trekker que há em mim prefere manter-se à sombra.

Já sabia que a China tinha a "great wall" mas só agora descubro a "great firewall". Só posso aceder à net com passaporte, tudo deve estar a ser monitorizado, o facebook e o blogger estão bloqueados. Ainda bem que posso fazer actualizações do blog por mail senão o meu plano de um diário ia por água abaixo... Se me quiserem dizer alguma coisa, tem de ser por mail para o rui (arroba) gil (ponto) com porque nao consigo ver o meu proprio blog !!!

domingo, 19 de julho de 2009

quarta-feira, 15 de julho de 2009

A anarquia é uma estética

“Fotografar é prender a respiração quando todas as nossas faculdades se conjugam diante da realidade fugidia; é neste momento que a captura da imagem é uma grande alegria física e intelectual.
Fotografar é pôr na mesma linha de mira a cabeça, o olho e o coração.
Fotografar é um meio de compreender que não pode ser separado dos outros meios de expressão visual. É uma maneira de gritar, de libertar-se, não de provar nem de afirmar a sua própria originalidade. É uma maneira de viver.
A fotografia "fabricada" ou encenada não me diz respeito. E se emito um julgamento, será de ordem psicológica ou sociológica. Há quem faça fotografias previamente arranjadas e há os que vão à descoberta da imagem e a captam. A máquina fotográfica é para mim um bloco de esboços, o instrumento da intuição e da espontaneidade, a senhora do instante, que, em termos visuais, questiona e decide ao mesmo tempo. Para "significar" o mundo, é preciso sentir-se implicado no que se descobre através do visor. Esta atitude exige concentração, uma disciplina de espírito, sensibilidade e um sentido de geometria. É mediante uma grande economia de meios que se chega à simplicidade de expressão. Deve-se sempre fotografar com o maior respeito ao objecto e a si mesmo.

A anarquia é uma estética.

O budismo não é, nem uma religião, nem uma filosofia, mas um meio que consiste em dominar o espírito para alcançar a harmonia, e pela compaixão, oferecê-la aos outros”

Henri Cartier-Bresson in "O imaginário segundo a natureza".

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Where the hell is Matt?



Este é o Original.. Esta é a versão revista e aumentada.

Onde andas Jiang Chu ?



quinta-feira, 2 de julho de 2009

Le soleil, la lune et le ciel...



Esta noite sonhei com um eclipse...
Tu est la mer, je suis le ciel
On ne se touche que à l'horizon
Mais on se touche...

Je te donnes la lune est le soleil
Tu me donnes le dauphin, et les poissons,
Merci pour ta bouche...

O Sal da língua...

«Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém - mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar,
para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.»

Eugénio de Andrade

Mandala

"we need to live in a state of suspended animation, like a work of art; in a state of enchantment... detached... detached... "


The Certainty of Chance



A butterfly flies through the forest rain
And turns the wind into a hurricane
I know that it will happen
’cause I believe in the certainty of chance

A schoolboy yawns, sits back and hits return
While round the world computers crash and burn
I know that it will happen
’cause I believe in the certainty of chance

And I believe
I can see it all so clearly now
You must go and I must set you free
’cause only that will bring you back to me
I know that it will happen
Because I believe in the certainty of chance

Sometimes at night the darkness and silence weighs on me. peace frightens me. perhaps I fear it most of all. I feel it’s only a facade, hiding the face of hell. I think of what’s in store for my children tomorrow; the world will be wonderful, they say; but from whose viewpoint? we need to live in a state of suspended animation, like a work of art; in a state of enchantment... detached... detached...