sábado, 29 de agosto de 2009
O Sol tambem se põe...
Beijos e Abraços a todos. Vemo-nos em Lisboa ou em Leiria...
Zai Jian :-)
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Os chineses
Os chineses como todas as culturas (e pessoas) têm coisas boas e coisas más... Talvez as coisas más se possam resumir com aquilo que eu chamaria de "imaturidade civilizacional"...
O chinês típico, não gosta de respeitar filas, sejam elas para o que forem, não empurram, mas se houver uma aberta, lá se vai o teu lugar...
O chinês típico gosta de atirar lixo para todo o lado menos para o caixote. Um chinês num autocarro, tem um caixote do lixo do lado direito e uma janela aberta do lado esquerdo. Para onde é que vai a garrafa de plástico, de vidro, ou embalagens de toda a espécie? Pela janela é claro. O caixote do lixo servirá provavelmente para cuspir...
O chinês típico gosta muito de cuspir. E não são aquelas cuspidelas distraídas, mas grandes e sonoros escarros... É preciso ter cuidado quando se pousa a mochila no chão, porque são piores que a pastilha elástica. Este é provavelmente o único país do mundo onde nos monumentos nacionais existe para além dos sinais de proibido fumar e proibido vazar lixo, um sinal de proibido, com um boneco a cuspir...
O trânsito é absolutamente caótico e segue as regras do salve-se quem puder. Para conduzir na China, a buzina é tão importante como o motor ou as rodas. É necessário estar sempre a buzinar, para se ter a certeza de ser visto.
Um táxi segue atrás de um camião, numa estrada com um duplo traço contínuo. O que é que ele faz? Primeiro põe o pisca (porque é importante colocar o pisca, quando se vai pisar um duplo traço contínuo) e ultrapassa a buzinar sem parar, para ter a certeza que os carros que vêm de frente se vão desviar... Nem quero imaginar como é que se resolve um acidente na China, porque se é perfeitamente natural um carro andar na rua sem matrícula, é fácil perceber como andarão os seguros...
Mas o chinês típico também tem coisas muito boas... Para começar eles são muito simpáticos e abertos com os estrangeiros. E, não é só aquela simpatia de circunstancia, ou comercial, é mesmo genuína... Mesmo com a barreira da língua tive inúmeras experiências que me comprovaram isso.
Três adolescentes chineses num tour onde eu sou o único estrangeiro. Eles não querem tirar fotografias apenas aos monumentos, querem tirar fotografias à vez comigo! É como se o estrangeiro para eles fosse tão interessante como aquilo que foram ver. E isto foi me confirmado por outros ocidentais a quem aconteceu o mesmo...
Numa viagem de comboio tento comprar alguma coisa para comer a uma vendedora de rua numa estação, ela não tem troco da minha nota de 100, pois o chinês que viajava ao meu lado, sem me conhecer de lado nenhum, paga-me o almoço! Eu uso o livro de vocabulário essencial para lhe dizer que lhe pago de volta quando conseguir trocar a nota e ele usa o mesmo livro para me dizer "meishi". Não há problema é por conta da casa!
O chinês típico é reservado. Não te aborda se não tiver razão para isso, mas se mostras alguma abertura, é só simpatias. Numa viagem de comboio uma pequena chinesa de 8 anos, debate-se com um cubo mágico. Como sei os números, proponho ensinar-lhe alguns algoritmos. "primeiro rodas para este lado, yi, er, san, si, wu. Agora rodas para trás, liu, qi, ba, jiu". Quando ela viu o cubo feito, tornei-me o seu herói e de toda a carruagem. Passaram a viagem a oferecer-me ameixas, frutos secos e sorrisos...
Outra forma que encontrei para demonstrar abertura foi usar t-shirts com símbolos chineses. Comprei uma t-shirt no templo de Shaolin que foi um sucesso! Cada vez que a vestia, tinha pessoas a meterem-se comigo e a fazerem os gestos do Kung Fu...
O chinês típico gosta de apreciar a vida e gosta de jogar. Nos parques, nas ruas, nas casas de chá, os chineses, a qualquer dia da semana, jogam cartas, xadrez ou majhong, cantam, dançam ou tocam instrumentos tradicionais, praticam taichi ou simplesmente bebem chá e trocam mexericos. O chá é algo de tão cultural, que é perfeitamente comum ver um chinês a carreguar um pequeno termo com folhas lá dentro. Todos os sítios públicos, como as estações de autocarro, de comboio, ou parques têm torneiras de água quente, para garantir que, ao chinês, nunca se lhe acaba o chá...
O chinês típico é pontual. Os comboios ou os autocarros não saem às 10h ou às 17h. Saem às 10h18 ou 17h04. E quem pensa que eles estão a brincar, experimente não estar lá dentro a horas e verá que fica em terra. Não são só os transportes públicos, é cultural. Num tour, o condutor de um autocarro, quando parava num sítio dizia, "às tantas horas, aqui." Dezenas de pessoas e ninguém se atrasava. E se alguém se atrasava 5 minutos por alguma razão vinha a pedir mil desculpas...
O chinês típico é social. Por exemplo, para o chinês, comer, não é apenas satisfazer uma necessidade básica, é um acto social. Pode ser intimidante para uma pessoa entrar num restaurante chinês, porque não há mesas para dois, ou para quatro. As mesas estão postas para oito, dez ou para mais, porque um chinês, quando vai comer, nunca vai sozinho mas leva toda a família... E com tantas oportunidades para comer, existem outras tantas para socializar. Comer é um acto tão social, que para um chinês, dizer "nî hao ma" (estás bom?) ou dizer "chi fan le ma" (já comeste?) é exactamente a mesma coisa...
É claro que quando falo dos chineses estou a falar da etnia maioritária, os han. Existem outras etnias como a tibetana ou os uigures. E estou a excluir Macau e Hong Kong que são realmente diferentes...
Tenho a impressão de que, assim como a China, está a passar por uma enorme transformação, também a sociedade chinesa o está. Nota-se uma grande diferença entre as gerações mais velhas, muito ligados às tradições, e à cultura e as gerações mais novas fascinadas com a modernidade... Para um chinês da nova geração estar na moda, é usar t-shirts com frases ocidentais. O problema é que as t-shirts são "made in china" por uma geração onde o inglês não era obrigatório na escola. Assim temos a andar na rua coisas escritas em chinglês como "no paint no gaing", "life better more live" ou "rear you fair"...
Mas não penso que esta abertura ao exterior, ou este fascínio com a modernidade possa descaracterizar uma cultura tão rica e tão diversa como a cultura chinesa. Creio que é apenas um reflexo das profundas transformações pelas quais a China está a passar. Quando a modernidade se instalar, e deixar de ser novidade, os chineses terão também eles muito para oferecer ao mundo...
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
A bordo do Star Ferry
Sinfonia da luzes
É o sonho de qualquer light jockey, "brincar" com uma cidade inteira... :-)
Hong Kong
Hong Kong e Macau, (que são chamadas pelo governo chinês de regiões administrativas especiais), são realmente especiais...
Para começar, uma semelhança entre Hong Kong e Macau é que são mais "civilizadas" que o resto da China. Os carros param nas passadeiras, é proibido fumar em recintos fechados, as ruas estão mais limpas, etc... As semelhanças entre Hong Kong e Macau continuam na medida em que ambas têm a sua fronteira, a sua moeda e os vestígios do seu passado colonial. Enquanto Macau mistura a cultura asiática, com a arquitectura de uma Lisboa antiga, Hong Kong mistura-a com os eléctricos e os autocarros de dois andares, tão característicos de Londres. Mas as semelhanças acabam aqui...
Macau tem uma atmosfera "histórica" (o centro de Macau é património da humanidade) enquanto que Hong Kong tem uma atmosfera muito mais moderna... Em Hong Kong os mega-casinos são substituídos pelos mega arranha céus. Se dissermos que Macau emula Las Vegas, Hong Kong emula Nova York ou outros centros financeiros internacionais.
Por causa desse aspecto de modernidade, o contraste entre a cultura asiática e a europeia, é mais acentuado em Hong Kong. No SoHo de Hong Kong, uma rua cheia de sinais luminosos chineses a anunciar a pequena ervanaria, a vendedora de fruta, ou o sapateiro, está rodeada por arranha céus de 50 andares...
Por aqui fala-se muito mais inglês, mas desconfio, que é porque há muito mais ingleses residentes por aqui, devido à actividade financeira. É vê-los à hora de almoço, a saírem das torres de vidro, com os seus fatos, gravatas, e as ruas raquetes de squash...
Parece também haver muito dinheiro por aqui, ou pelo menos é mais visível. É fácil ver na rua passar um Porshe, um Maserati ou outra extravagancia semelhante... Provavelmente devem ser os executivos de topo da AIG, ou do Citigroup, com os seus bonus chorudos, e que tambem têm as suas torres por aqui...
Bem vistas as coisas, Hong Kong e Macau são o par perfeito. Porque se é em Hong Kong que "fazem" o dinheiro, é em Macau que o vão gastar...
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
A torre de Macau...
Cirque du Soleil, Zaia
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
O Venetian
Casino Lisboa...
Macau
Os táxis eram pretos com a capota verde ou beige, as matrículas dos automóveis tinham o formato das portuguesas mas começavam todas por "M", o meu pequeno almoço foi dois pastéis de nata, e um café, o meu almoço foi bacalhau à zé do pipo, os passeios eram as típicas calçadas portuguesas com desenhos de caravelas, fiquei alojado num pequeno hotel na Rua da Felicidade, uma paralela com a Avenida Almeida Ribeiro, enfim, parecia que já estava em casa...
No meu entusiasmo comecei a falar português para toda a gente. Para o homem do táxi, do hotel ou do restaurante. "Então, como vai? E a família tudo bem? Ola, eu sou o Rui, venho de Portugal". O que recebi foram olhos esbugalhados de quem não está a perceber nada, provavelmente os mesmos que eu faço, quando falam para mim em cantonês...
Macau parece português, mas não é... Talvez a metáfora perfeita para isso seja as ruínas de S. Paulo, o ícone turístico da cidade e que Macau usou como representação no seu pavilhão da Expo 98. As ruínas são da antiga Igreja de S.Paulo que foi destruída num incêndio e da qual só sobrou a fachada... Macau já só tem uma fachada portuguesa, o resto desapareceu na história...
E que história! É preciso admirar a audácia dos navegadores portugueses que aqui chegaram no século XVI. Chegaram à baía de A-Ma (em cantonês A-Ma Gau, que depois ficou Macau), para se protegerem de uma tempestade. A-Ma, é uma deusa local, que protege os homens do mar, e ela deve ter querido que os portugueses chegassem aqui... Aquilo que era apenas uma pequena aldeia de pescadores transformou-se no maior porto de trocas comerciais entre o Oriente e o Ocidente... A seda e o chá, já não precisavam de enfrentar os perigos do deserto nas caravanas de camelos, porque agora viajavam nos porões das caravelas portuguesas...
Hoje, Macau já não é nada disso. Hoje, Macau são os casinos. A ambição de Macau é tornar-se a Las Vegas do Oriente. E, pelo caminho que as coisas estão a tomar, muito brevemente, Las Vegas passará para segundo plano e será chamada Macau do ocidente... Por todo o lado se vêem mega-casinos em construção. Coisas absolutamente megalomenas, verdadeiras cidades artificiais como o "Venetian" que emula a cidade de Veneza...
Algumas cadeias norte americanas, de Las Vegas, também resolveram se instalar aqui, como a "MGM" e outros... Macau parece ter um futuro brilhante pela frente, ao se transformar numa espécie de "Cidade dos Sonhos" onde milhões são ganhos e perdidos ao som da roleta...
sábado, 22 de agosto de 2009
O enigma que não chegou a ser
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
20 Yuan
Jogos de luzes
As expectativas eram grandes por causa do autor, mas mesmo assim, foram totalmente cumpridas! O tema dos cenários, "pintados" com luzes era obviamente Yangshuo.
Achei o máximo, porque tudo aquilo que eu tinha visto no meu passeio de bicicleta, os pescadores, as jangadas de bamboo, os búfalos na água, as crianças à beira rio, os arrozais, com o fundo das montanhas típicas, aparecia estilizado com uma estética luminosa que transformava tudo em magia... E isso é arte!
Uma aventura...
Como ponto de referencia resolvi seguir o rio. O caminho foi ficando cada vez mais estreitos até que deixou de haver caminho, apenas vegetação intransponivel. Por coincidência (ou não) havia nesse lugar uma velhinha com um barco. Perguntou-me se eu queria passar para o outro lado, e eu disse que sim, pensando que mais à frente encontraria uma ponte para passar novamente o rio...
Vários quilómetros depois, como não encontrava ponte,e farto de andar metido dentro dos arrozais, resolvi meter pela estrada, com a esperança de que na próxima povoação encontraria uma ponte. Má ideia...
Vinte quilómetros depois de uma estrada através da montanha, com subidas e descidas, e sem uma única sombra, cheguei novamente ao rio, queimado do sol, sem água, sem barcos e sem ponte...
Fiquei preso. Sentia-me exausto e sem forças para voltar para trás, e não era possível ir em frente. Então sentei-me à beira do rio a ver o tempo passar... Algum tempo depois, passou por ali um chinês a quem eu perguntei como fazer para passar para o outro lado...
Ele por gestos disse que ia chamar um amigo. Quando o amigo chegou, só trazia um remo, e eu perguntei-lhe onde estava o barco. Ele apontou para a margem do rio e foi então que vi ... Uma jangada de bamboo!
Comecei a ficar preocupado. O rio tinha corrente, a jangada tinha o aspecto de se partir mal saísse da margem, e era óbvio que ela não aguentaria com o peso de duas pessoas mais a bicicleta. No entanto, com sorrisos, lá me convenceu a subir...
Fui eu e a bicicleta em cima da jangada, e o amigo a nado a rebocá-la. Consegui finalmente passar o rio e fiz os quilómetros de volta para Yangshuo.
Quando cheguei, reparei que havia uma agência que oferecia a possibilidade de experimentar um passeio nas típicas jangadas de bamboo de Yangshuo. Comecei a sorrir... Mais típico do que a experiência que eu tinha acabado de ter, era impossível.:-)
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Imagens de sonho...
A razão pela qual estou aqui, é uma história que começou há muitos anos... Foi quando o meu pai comprou uma enciclopédia geográfica do Readers Digest. Como todas as enciclopédias, tinha todos os países do mundo (alguns dos quais já nem existem), informação estatística como capital, população, área, etc, e um pouco de história do país.
Muito antes de eu sonhar em viajar, eu fazia viagens de sonho dentro da enciclopédia mas a única coisa que ficou gravado na minha memória foram as fotografias que acompanhavam os países... De tal forma, que muito tempo depois, quando eu ouvia falar de um determinado país, a primeira coisa que vinha à memória era a fotografia dele na enciclopédia...
Assim, o Peru era Machu Pichu, a Namíbia era o deserto vermelho de Sossusvlei, a Índia era o Taj Mahal, a Indonésia eram os vulcões, o Cambodja era Angkor, etc... A China era: Uma imagem das colinas verdes de Yangshuo nos arredores de Guilin...
É fácil reconhecer que nas minhas viagens tenho andado a perseguir essas imagens. O objectivo é claro, transformar imagens de sonho em realidade... Dei-me conta no entanto de um facto curioso. A primeira coisa que faço quando estou frente a frente com a realidade, é apontar a objectiva, escolher a abertura, e "click!", transformo a realidade outra vez em sonho... Acho que há uma certa simetria nisto.
Por falar em tons...
"sìshísì zhï, shíshïzî shì sîde"
(quarenta e quatro pedras, os leões estão mortos)
Leituras de viagens
Nesse álbum há uma faixa chamada "Bonfire" (fogueira) onde a Lou canta qualquer coisa como "You should burn like a good bonfire, in whatever you do..."
O que é que isto tem a ver com leituras de viagem?
Aqui vai um parágrafo do que estou a ler. Desculpem ser em inglês, mas não vou traduzir...
"In order not to leave any traces, when you do something, you should do it with your all body and mind; You should burn yourself completely, like a good bonfire, leaving no trace of yourself. Zen activity is activity wich is completely burned out, with nothing remaining but ashes. (...) Usualy when someone believes in a particular religion, his attitude becomes more and more a sharp angle pointing away from himself. In our way the point of the angle is always towards ourselves."
Shunryu Suzuki, in "Zen Mind, Beginners Mind".
Alguém é servido?
(E eu feito chinês, estava a apreciar tanto a vida, que ia perdendo o comboio!)
O maior... O maior...
A ópera de Sichuan
sábado, 15 de agosto de 2009
O panda kung fu
Quem me conhece sabe que eu tenho uma costela ecológica. Mas há ecologias e ecologias... Cuidar do nosso planeta é cuidar da nossa casa, sabendo que não temos mais nenhuma, e ninguém gosta de viver numa casa imunda e cheia de fumo... Mas a minha noção de ecologia é que devemos cuidar de ecosistemas em geral para além de espécies em particular...
Portanto é muito bonito cuidarem dos pandas em cativeiro, mas talvez fosse mais interessante não destruirem as florestas de bamboo que são o seu habitat natural...
No total existem cerca de 1000 pandas no mundo, e se não fossem os esforços de preservação ele provavelmente já estaria extinto...
Também não seria de admirar. É preciso vê-lo ao vivo para perceber o quão "urso" este animal é... Então eu estou neste clima de t-shirt a transpirar sem parar com a humidade, e ele usa um casaco de peles preto e branco!? Além disso resolveu especializar-se numa dieta de bamboo. Como as folhas de bamboo são muito pouco caloricas eles têm de passar todo o tempo a comer, nem sequer podem hibernar como os outros ursos senão morerriam de fome! Como se isto não bastasse, a cada 25 anos, enormes áreas das florestas de bamboo florescem e morrem e eles têm de migrar para outras áreas... Portanto é um animal que claramente se especializou demasiado. Agora veio o homem dar-lhe cabo das florestas de bamboo e eles obviamente vêem-se a caminho da extinção...
Ao vivo são como autênticos ursinhos de peluche. Muito doceis e brincalhões. Gostam muito de subir às árvores e cair aos trambolhões. Quando não estão a brincar estão a comer folhas de bamboo, como se elas não tivessem fim... Quem olhar directamente para os seus olhos parece ouvir dizer: Ola, eu sou um panda, por favor cuida de mim...
Um bom duche
O caminho para Chengdu...
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
A sala secreta...
As bandeiras de oracao tibetanas
A caminho do templo da princesa...
Yushu
Tenho de confessar que quando recebi os avisos de estradas más e cães vadios, pensei que estivessem a exagerar...
A viagem de Xining para Yushu foi medonha, e o pior nem sequer foi o caminho de cabras, no qual o autocarro se aventurava, mas o facto de toda a viagem ter sido feita, acima dos 4200 metros de altitude, com passagens aos 4800!
Apesar dos dois dias de aclimatizacão em Xining, a falta de oxigénio deu-me uma dor de cabeça enorme, que retirou um pouco do prazer de apreciar a paisagem. É no entanto uma paisagem magnífica, terras verdes de pastagem a perder de vista, com manadas de iaques, tendas de nomadas, e as típicas bandeiras de oração tibetanas... Felizmente Yushu fica a "apenas" 3600 metros e isso fez com que eu começasse a melhorar.
No primeiro dia em Yushu fui atacado por cães vadios e perseguido por um iaque... (Não, não estou a brincar). Os cães eram dois e estavam perto de um templo que fui visitar. Atiraram-se a mim a rosnar e a mostrar os dentes. Uma vez em Bali na Indonésia, aprendi à custa de uma mordidela sem gravidade que nunca se deve mostrar medo nem as costas a um cão vadio senão eles atacam. Então mostrei os dentes e comecei a rosnar também, ao mesmo tempo que recuava a ver se eles me largavam.
Infelizmente um deles parecia mais confiante e pronto a saltar, então institivamente dei um passo em frente e apliquei-lhe um valente pontapé no focinho (queria aqui, em primeira mão, pedir desculpa à sociedade protectora dos animais mas era ele ou eu). Ele partiu a ganir e o outro não fugiu, mas perdeu a vontade. Consegui portanto recuar e vir-me embora...
Quando ainda me estava a recompor do susto, vinha por uma viela estreita de Yushu quando ouço atrás de mim um - MUuu ! - virei-me e era um iaque a trote na minha direção. Ora eu não sei o que é suposto fazer com iaques! Então encostei-me à parede e ele passou por mim sem problemas. Afinal era ele a buzinar, tudo bem, melhor assim...
O segundo dia em Yushu foi bem melhor! Yushu é aquilo que eu esperava que fosse e mais ainda... É quase como se fosse outro país. Aqui a etnia dominante são os tibetanos com 97%. Os rostos são diferentes, a pele mais escura, os cabelos mais negros. Vê-se muitas pessoas com o fato tradicional na rua. Só que não estão a usá-lo por causa dos turistas porque não há turistas!
É mentira. Havia mais 3 turistas em Yushu. Eu sei, porque jantei com eles. Um casal de suíços de Genebra que conheci na viagem de autocarro, o Clement e a Charlotte, e um amigo deles que eles tinham conhecido em Xining. O Robert, um inglês que estava a viver há 10 anos em Hong Kong.
Na terça-feira, decidi partilhar um táxi com os suíços para irmos visitar o templo da princesa Wencheng, e tive oportunidade de assistir a uma das visões mais extraordinárias desta viagem... Toda a zona à volta em templo estava coberta por bandeiras de oração tibetanas que cobriam a montanha como uma gigantesca teia de aranha...
Na volta para Yushu, vimos um templo no topo de uma montanha do outro lado em rio que não estava referenciado no guia. Convencemos o taxista a nos levar lá. Quando chegamos o taxista falou com o monge que foi abrir o templo só para nós! Quando entramos nem queríamos acreditar nos nossos olhos. A sala de orações foi uma das mais belas que já vi nesta viagem. Estátuas douradas de Buda com vários metros de alto, paredes e tecto todos pintados com narrativas budistas coloridas, o cheiro a incenso... Estávamos os 3 com os queixos caídos, em exclamações de espanto, quando o monge nos convida para entrarmos numa porta lateral. Pensamos que nada podia igualar o que tínhamos acabado de ver. Seguimos o monge, como se fôssemos os salteadores da arca perdida. Atrás da sala de oração havia uma sala secreta com uma visão ainda mais extraordinária. Um Buda sentado com mais de uma dezena de metros, ladeado por 4 bodisatvas de cada lado que estavam virados para uma parede com milhares de pequenos budas dentro de armários de vidro... A nossa escala de espanto rebentou no vermelho e não conseguiamos dizer mais nada...
Yushu acabou por ser uma das melhores surpresas desta viagem e o esforço de ter vindo aqui foi largamente recompensado. Para quem como eu procura experiências autênticas, tive o prato cheio. Amanhã (quinta-feira) apanho um autocarro para Chengdu e vai ser outra viagem daquelas mas valeu a pena...
Musica para os ouvidos...
Depois das cenas das bombas de carnaval, acabei por ir parar a um jardim. Vi uma multidao e resolvi investigar. Era um espetaculo feito com pequenas chinesas dos 4 ate ao 10 anos, que tocavam harpa tradicional chinesa. Foi absolutamente incrivel ver aquelas pequenas chinesas, algumas com o fato tradicional, outras tao pequenas que nao chegavam com os pes ao chao, todas pintadas, com unhas de metal a tocar esse instrumento tao bizarro em coro... Fui totalmente surpreendido e acabei por ficar la duas horas a ve-las tocar. :)
Bombas para a sorte...
Knock knock on Tibete door...
... mas as portas estão fechadas. Para ser mais correcto, não estão fechadas mas demora demasiado tempo a abri-las. O meu plano era apanhar o comboio para Lhasa em Xining e depois tentar chegar a Chengdu. Eu sempre soube que era preciso uma autorização especial para viajar para Lhasa, mas pensava que obtê-la era apenas uma questão de dinheiro... Em Lisboa tentei contactar a CITS (China International Travel Service) mas não obtive resposta. Em Xining arranjam-me essa autorização, só que lutar contra a burocracia chinesa demora no mínimo 10 dias!
Ora tempo para estar parado 10 dias em Xining é que eu não tenho... Se eu tivesse 6 meses de viagem, talvez, assim tive de encontrar outra alternativa. O plano agora passou a ser o seguinte: Vou chegar a Chengdu, aproximando-me o máximo possível da fronteira do Tibete, para conseguir na mesma entrar em contacto com a cultura tibetana...
Esta opção tem o potencial de transformar esta contrariedade numa oportunidade, porque permite-me entrar do contacto com a cultura tibetana, na sua forma mais autêntica e menos diluída...
Por outro lado isso implica que eu esteja disposto a ir para a região mais remota, da província mais remota, onde os turistas não têm hábito de ir... Os avisos que tenho recebido são, de levar dinheiro e comida, e preparar-me para estradas más, cães vadios, e imprevistos...
Já tenho um bilhete de autocarro para Yushu, perto da fronteira, depois logo se vê...
sábado, 8 de agosto de 2009
Ola.:-)
Muitos quilómetros feitos...
Decidi ir para Xining, para fazer a minha aproximação ao Tibete. Não quero cometer o mesmo erro que fiz na minha viagem à américa do sul. Chegar a La Paz, a 4000 metros, vindo directamente do nível do mar... Fiquei doente com o mal de altitude e tive de descer, para aclimatizar, e depois voltar a subir.
Nesta viagem para Xining já tive passagens a 3700 metros e já comecei a sentir aquela estranha dor de cabeça. Xining fica a 2200 metros, a altitude ideal para aclimatizar e depois tentar apanhar o comboio para Lhasa que tem passagens a mais de 5000 metros!
A paisagem nesta viagem tem sido de cortar a respiração... Literalmente por causa da altitude, mas também como metáfora, pelas suas planícies deserticas sem fim, polvilhadas com alguns picos nevados e vegetação rasteira (a altitude não perdoa). Agora que a noite caiu, como diria Pessoa, tenho "febre" e escrevo, só que em vez de ser à luz das lâmpadas eléctricas da fábrica é debaixo da luz de uma lua cheia gigantesca...
A razão de eu ter feito estes milhares de quilómetros, entre Xian e Dunhuang, teve como objectivo ir ver as grutas de Mogao, mas não só... As grutas só por si, valeriam o esforço. Elas são, como arte budista, únicas no mundo. Melhor inclusive que as grutas dos Longmen e por isso também património mundial. A razão é que as grutas são maiores, e protegeram as estátuas da luz e dos elementos. Todas elas possuem ainda a sua pintura original. A fotografia é totalmente interdita por causa dos flashes e só se entra nas grutas acompanhado com lanternas ou luz controlada, para proteger a tinta...
A outra razão foi de ordem simbólica. Assim como Xian foi em tempos considerada a porta de entrada na rota da seda, Dunhuang era a porta de saída para os países a ocidente, isso porque ao ser um oasis no meio do deserto, fazia com que grande parte das rotas passassem por lá. Daí também, os monges terem escolhido, Dunhuang, para a localização das grutas.
Portanto ir para Dunhuang foi o acto simbólico de repetir o trajecto que as caravanas de camelos faziam para levar a seda que iria vestir os reis e as princesas do ocidente...
Passando da História, para as pequenas histórias, esta noite também teve a sua... Paramos durante a noite numa pequena aldeia do deserto. Uma adolescente entra no autocarro e instala-se. Mesmo antes de ele partir chega a família toda dela. Pai, mãe, irmãos, primos, eu sei lá... A mãe usa o lenço muçulmano. É a confusão dentro do autocarro. O pai berra, a mãe berra, deduzo que não querem que ela vá. A pequena resiste, a coisa azeda. Subitamente estão uns a puxar-lhe as pernas, outros os braços e ela agarrada aos bancos a gritar. Conseguem-na tirar do autocarro à estalada, e partimos sem ela. Parece-me óbvio que a pequena ia a fugir de casa, mas não teve sorte. Talvez para a próxima...
As grutas de Mogao
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Leituras de viagem
em que os meus sentidos se aprofundam;
nelas encontrei, como em velhas cartas, o meu dia-a-dia já vivido,
ultrapassado e vasto como numa lenda.
Elas me ensinam que possuo espaço
para uma intemporal segunda vida.
E por vezes sou como a árvore
que madura e rumorosa, sobre uma campa
cumpre o sonho que a criança de outrora
(abraçada por suas cálidas raízes)
perdeu em tristezas e canções."
Rainer Maria Rilke
"A única verdadeira jornada é caminhar para dentro de si"
Rainer Maria Rilke
"Eu estive em todos os lugares e só em mim mesmo me encontrei."
John Lennon
"Não vás para fora, volta a ti. No interior do ser humano habita a verdade."
Santo Agostinho.
"Conhece-te a ti mesmo, e conhecerás o universo com tudo o que existe."
Sócrates
"O que vai para fora depende das coisas exteriores. Quem vai para dentro encontra em si tudo que procura."
Lao tze
A torre do tambor
Hua Shan e Longmen
No sopé da montanha existe apenas uma pequena aldeia e aqui a barreira da língua torna tudo uma aventura, como o simples acto de pedir algo para comer... Nunca se sabe ao certo o que vai aparecer. Num dos restaurantes reparei que tinham cobra no menu, mas decidi pedir algo com camarões. Vieram com uma bolacha de farinha e confettis coloridos de açúcar por cima!? Enfim...
No templo de Shaolin conheci uma juíza israelita, e um casal de holandeses. A Madelong era webdesigner, e o Fred construía aceleradores de partículas (!?!!). Na 6feira fui visitar as grutas dos Longmen perto de Luoyang com eles e depois resolvemos no fim de semana subir à montanha de Hua Shan juntos, mas como no domingo estava a chover eles desistiram e acabei por subir sozinho...
As grutas dos Longmen são um espectáculo de escultura budista. Património mundial da unesco, foram escavadas durante 200 anos, há 2500 anos atrás, numa falésia do rio Yi Hé. Mais de cem mil estátuas foram esculpidas na rocha tornando este lugar único no mundo. As estátuas representam Buda e outros bodhisattva (seres iluminados). A escala de algumas com várias dezenas de metros, é o suficiente para invocar o espanto...
Hua Shan é um cenário natural de sonho, com 5 picos (norte, sul, este, oeste e central) sendo o pico sul o mais alto com 2160 metros. A montanha está coberta de árvores com mais de mil anos, e com uma flora e fauna muito diversa. Existem vários templos taoístas espalhados pela montanha mas nunca esperei que um treking aqui pudesse ter uma natureza espiritual. A razão é que a israelita preveniu-me que as excursões a partir de xian, chegam à montanha às 13h e o engarrafamento de turistas chineses começa...
Resolvi por isso passar a noite na aldeia e começar o treking pela montanha cedo para ter alguma paz e sossego. Comecei às 8h da manhã, corri os picos todos e acabei de descer o "caminho dos soldados" às 2h da tarde. Resolvi descer e não subi-lo porque só o nome mete respeito e ele tinha realmente partes verticais. Mas isso não parecia impedir pequenas chinesas com 7-8 anos de subi-lo calçadas com havaianas...
Hoje (2feira) estou em xian e ainda bem que está a chover, porque resolvi me dar um dia de descanso sem fazer nada. (estou todo partido do treking!). Consegui encontrar uma livraria que vendia o livro que perdi, por isso estou de volta à aprendizagem. Amanhã vou ver o exército de terracota e na 4feira apanho o comboio para o deserto (Dunhuang) a ver se escapo finalmente a esta chuva...
Xeque mate!
Panorama das cavernas.
sábado, 1 de agosto de 2009
O Templo de Shaolin
Alguém me disse que o meu grito de regateio não era exactamente como o dos monges de Shaolin. Resolvi tirar isso a limpo... Apanhei um comboio para Song Shan, uma região no centro da China, para conhecer o único, o famoso, o verdadeiro templo de Shaolin... O kungfu foi inventado ali, por isso imaginei que os monges me poderiam ensinar para além do grito, alguns truques... O templo ainda lá está e é absolutamente belo! Com jardins cheio de árvores milenares e grandes piras cheias de incenso a arder, mas os monges foram quase todos embora. Ficaram apenas alguns, com uma escola de kungfu onde os putos chineses podem aprender a arte e demonstra-la aos turistas curiosos como eu que por ali passam.
Num dos jardins existe a "pedra sombra". Reza a lenda que um monge indiano de nome Damo, chegou ao templo no século V, e que lhe foi negada a entrada. Resolveu por isso retirar-se numa caverna e meditar durante 9 anos, para conseguir a atitude mental correcta que lhe permitisse entrar no templo. De tanto meditar virado para a parede, a sua sombra ficou gravada na rocha... Para descansar de tanta meditação o monge imitava animais como o tigre ou o escorpião e essas posições evoluíram para a arte marcial de Shaolin.
Durante a demonstração assisti a algo nas fronteiras do verosímel... Um monge a atirar uma agulha contra um vidro e rebentar um balão do outro lado... Verdade ou magia?
A China comunista...
Se eu não soubesse história e alguém me dissesse que a China foi em tempos um país comunista, seria muito difícil acreditar... Tirando a arquitectura dos edifícios oficiais que lembram essa era, não existe propaganda ideológica em lado nenhum. Cartazes, slogans, panfletos, todos desapareceram, foram arrancados ou pintados por cima. Aquilo que de mais parecido vi como uma mensagem ideológica, foi um filme antigo que passou numa viagem de avião para Beijing. O enredo era um grupo de pessoas que trabalhavam numa quinta agrária e que lutavam pelo seu direito à educação...
Hoje, essas mensagens foram substituídas por anúncios comerciais de toda a espécie. A iniciativa privada é a regra e há um materialismo evidente nos carros alemães, ou coreanos topos de gama que os homens de negócio conduzem ou nos telemóveis de última geração que os putos usam no metro.
Nota-se claramente que a China é um país em transformação acelerada. Por todo o lado se vêem pontes, estradas e prédios em construção. A rapidez dessa mutação faz com que se vejam coisas de primeiro mundo a conviver lado a lado com outras de terceiro mundo. Como se a China no seu despertar tivesse dado um salto sem passar pelo segundo...
O modelo de desenvolvimento é claramente uma cópia do modelo ocidental, a única diferença é o modelo de governação. A presença do partido no entanto não se faz notar. Tirando uns militares à porta dos edifícios oficiais ou em lugares sensíveis como a praça de tiannamen. Existem câmaras de vídeo por todo o lado, e as bagagens são passadas a raio-x em todos os meios de transporte, mas isso não faz Beijing diferente de, por exemplo, Londres...
A primeira impressão é a de que os chineses gozam de uma extensa liberdade e que as restrições à internet que eu sinto, a eles não lhes diz nada ou podem bem viver com isso. As restrições que eu sinto também são relativas. É certo que se eu tentar aceder através de um sítio oficial fotocopiam-me o passaporte e tiram-me as medidas, mas já reparei que pelo menos em Beijing existem redes sem fios abertas por todo o lado, em cafés, restaurantes, hotéis, portanto não preciso de me submeter a isso...
Parece existir na sociedade chinesa uma grande apatia política talvez devido ao facto de que não é preciso colocar em causa o papel do partido enquanto a vida estiver a melhorar. Essa é pelo menos a teoria dos analistas ocidentais que dizem que a China tem de crescer 8% ao ano para não ter revoluções sociais...
Não sei se isso é verdade, mas o que eu sei é que o modelo de desenvolvimento que a China copiou está obsoleto, como ficou demonstrado nesta última crise internacional. Não se pode apostar num modelo de crescimento exponencial num planeta com recursos limitados.
Li recentemente numa estatística que cada americano consumia cerca de 25 vezes mais de energia do que um chinês. Se a ambição da China é atingir o nível de vida dos americanos, isso significa que 1.3 mil milhões de pessoas (20% da população mundial) teria de consumir 25 vezes mais energia... Não é possível. O planeta não aguenta, algo vai ter de mudar... Os chineses já conseguiram mudar de um regime comunista para um capitalista sem sobressaltos, portanto não tenho dúvidas de que quando o futuro assim o impuser eles irão mudar novamente... Ou isso ou estamos todos tramados.