segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Macau

Tenho de confessar, de que quando cheguei a Macau entusiasmei-me... Quando passei a fronteira na porta do cerco, os oficiais chineses carimbaram o meu passaporte como tendo saído da China, e depois vejo na fronteira de Macau a palavra "Entradas", e de repente tudo estava escrito em português...

Os táxis eram pretos com a capota verde ou beige, as matrículas dos automóveis tinham o formato das portuguesas mas começavam todas por "M", o meu pequeno almoço foi dois pastéis de nata, e um café, o meu almoço foi bacalhau à zé do pipo, os passeios eram as típicas calçadas portuguesas com desenhos de caravelas, fiquei alojado num pequeno hotel na Rua da Felicidade, uma paralela com a Avenida Almeida Ribeiro, enfim, parecia que já estava em casa...

No meu entusiasmo comecei a falar português para toda a gente. Para o homem do táxi, do hotel ou do restaurante. "Então, como vai? E a família tudo bem? Ola, eu sou o Rui, venho de Portugal". O que recebi foram olhos esbugalhados de quem não está a perceber nada, provavelmente os mesmos que eu faço, quando falam para mim em cantonês...

Macau parece português, mas não é... Talvez a metáfora perfeita para isso seja as ruínas de S. Paulo, o ícone turístico da cidade e que Macau usou como representação no seu pavilhão da Expo 98. As ruínas são da antiga Igreja de S.Paulo que foi destruída num incêndio e da qual só sobrou a fachada... Macau já só tem uma fachada portuguesa, o resto desapareceu na história...

E que história! É preciso admirar a audácia dos navegadores portugueses que aqui chegaram no século XVI. Chegaram à baía de A-Ma (em cantonês A-Ma Gau, que depois ficou Macau), para se protegerem de uma tempestade. A-Ma, é uma deusa local, que protege os homens do mar, e ela deve ter querido que os portugueses chegassem aqui... Aquilo que era apenas uma pequena aldeia de pescadores transformou-se no maior porto de trocas comerciais entre o Oriente e o Ocidente... A seda e o chá, já não precisavam de enfrentar os perigos do deserto nas caravanas de camelos, porque agora viajavam nos porões das caravelas portuguesas...

Hoje, Macau já não é nada disso. Hoje, Macau são os casinos. A ambição de Macau é tornar-se a Las Vegas do Oriente. E, pelo caminho que as coisas estão a tomar, muito brevemente, Las Vegas passará para segundo plano e será chamada Macau do ocidente... Por todo o lado se vêem mega-casinos em construção. Coisas absolutamente megalomenas, verdadeiras cidades artificiais como o "Venetian" que emula a cidade de Veneza...

Algumas cadeias norte americanas, de Las Vegas, também resolveram se instalar aqui, como a "MGM" e outros... Macau parece ter um futuro brilhante pela frente, ao se transformar numa espécie de "Cidade dos Sonhos" onde milhões são ganhos e perdidos ao som da roleta...

1 comentário:

Cláudio Gil disse...

Quando estás no Oriente as distinções de Oriente e Ocidente continuam a fazer sentido? É que Macau está tão longe de Lisboa (para Ocidente) como de Las Vegas (para Oriente). Quer dizer, mais ou menos 1000km :-).

Do que viste por aí dirias que o legado português vai desvanecer-se com o tempo? Não é que esteja preocupado com isso. Era mais para saber se os Macaenses olham para a história portuguesa como parte da identidade deles.