quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Yushu

Tenho de confessar que quando recebi os avisos de estradas más e cães vadios, pensei que estivessem a exagerar...

A viagem de Xining para Yushu foi medonha, e o pior nem sequer foi o caminho de cabras, no qual o autocarro se aventurava, mas o facto de toda a viagem ter sido feita, acima dos 4200 metros de altitude, com passagens aos 4800!

Apesar dos dois dias de aclimatizacão em Xining, a falta de oxigénio deu-me uma dor de cabeça enorme, que retirou um pouco do prazer de apreciar a paisagem. É no entanto uma paisagem magnífica, terras verdes de pastagem a perder de vista, com manadas de iaques, tendas de nomadas, e as típicas bandeiras de oração tibetanas... Felizmente Yushu fica a "apenas" 3600 metros e isso fez com que eu começasse a melhorar.

No primeiro dia em Yushu fui atacado por cães vadios e perseguido por um iaque... (Não, não estou a brincar). Os cães eram dois e estavam perto de um templo que fui visitar. Atiraram-se a mim a rosnar e a mostrar os dentes. Uma vez em Bali na Indonésia, aprendi à custa de uma mordidela sem gravidade que nunca se deve mostrar medo nem as costas a um cão vadio senão eles atacam. Então mostrei os dentes e comecei a rosnar também, ao mesmo tempo que recuava a ver se eles me largavam.

Infelizmente um deles parecia mais confiante e pronto a saltar, então institivamente dei um passo em frente e apliquei-lhe um valente pontapé no focinho (queria aqui, em primeira mão, pedir desculpa à sociedade protectora dos animais mas era ele ou eu). Ele partiu a ganir e o outro não fugiu, mas perdeu a vontade. Consegui portanto recuar e vir-me embora...

Quando ainda me estava a recompor do susto, vinha por uma viela estreita de Yushu quando ouço atrás de mim um - MUuu ! - virei-me e era um iaque a trote na minha direção. Ora eu não sei o que é suposto fazer com iaques! Então encostei-me à parede e ele passou por mim sem problemas. Afinal era ele a buzinar, tudo bem, melhor assim...

O segundo dia em Yushu foi bem melhor! Yushu é aquilo que eu esperava que fosse e mais ainda... É quase como se fosse outro país. Aqui a etnia dominante são os tibetanos com 97%. Os rostos são diferentes, a pele mais escura, os cabelos mais negros. Vê-se muitas pessoas com o fato tradicional na rua. Só que não estão a usá-lo por causa dos turistas porque não há turistas!

É mentira. Havia mais 3 turistas em Yushu. Eu sei, porque jantei com eles. Um casal de suíços de Genebra que conheci na viagem de autocarro, o Clement e a Charlotte, e um amigo deles que eles tinham conhecido em Xining. O Robert, um inglês que estava a viver há 10 anos em Hong Kong.

Na terça-feira, decidi partilhar um táxi com os suíços para irmos visitar o templo da princesa Wencheng, e tive oportunidade de assistir a uma das visões mais extraordinárias desta viagem... Toda a zona à volta em templo estava coberta por bandeiras de oração tibetanas que cobriam a montanha como uma gigantesca teia de aranha...

Na volta para Yushu, vimos um templo no topo de uma montanha do outro lado em rio que não estava referenciado no guia. Convencemos o taxista a nos levar lá. Quando chegamos o taxista falou com o monge que foi abrir o templo só para nós! Quando entramos nem queríamos acreditar nos nossos olhos. A sala de orações foi uma das mais belas que já vi nesta viagem. Estátuas douradas de Buda com vários metros de alto, paredes e tecto todos pintados com narrativas budistas coloridas, o cheiro a incenso... Estávamos os 3 com os queixos caídos, em exclamações de espanto, quando o monge nos convida para entrarmos numa porta lateral. Pensamos que nada podia igualar o que tínhamos acabado de ver. Seguimos o monge, como se fôssemos os salteadores da arca perdida. Atrás da sala de oração havia uma sala secreta com uma visão ainda mais extraordinária. Um Buda sentado com mais de uma dezena de metros, ladeado por 4 bodisatvas de cada lado que estavam virados para uma parede com milhares de pequenos budas dentro de armários de vidro... A nossa escala de espanto rebentou no vermelho e não conseguiamos dizer mais nada...

Yushu acabou por ser uma das melhores surpresas desta viagem e o esforço de ter vindo aqui foi largamente recompensado. Para quem como eu procura experiências autênticas, tive o prato cheio. Amanhã (quinta-feira) apanho um autocarro para Chengdu e vai ser outra viagem daquelas mas valeu a pena...

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